segunda-feira, 17 de abril de 2017



Nos dias 14, 15 e 16 de outubro de 2016 tivo lugar na Serra de Sam Mamede, em Ourense, o IIº Encontro de Autoformaçom Feminista sobre Violências Machistas

O Encontro organizou-se nas Corceriças, sede da associaçom ecologista Amigos da Terra e projeto inovador de eficiência energética e de educaçom para novos paradigmas de consumo.
http://ascorcerizas.com/central/141118wp/)

As razons para organizar este Encontro fôrom muitas, mas todas estám ligadas à necessidade de debate, reflexom e propostas de açom sobre os inumeráveis casos de violência machista que acontecérom e continuam a acontecer em diferentes âmbitos da nossa sociedade.

Esta necessidade estivo igualmente na base doutras jornadas feministas anteriores, dedicadas à violência machista, onde se juntárom forças feministas diversas e se tratou o tema de diferentes perspectivas. Lembramos a Iª Jornadas de Auto-formaçom sobre Violências Machistas que tivérom lugar nas Corceriças no fim de semana do 15-16-17 de janeiro do 2016 (através destas ligaçons podes consultar os objetivos das Jornadas http://reencontro.blogaliza.org/i-jornadas-sobre-violencias-machistas/ assim como material de interesse relativo ao quadro teórico https://drive.google.com/file/d/0Byf3O--bD5TwVzljbkswLTZDOTA/view?usp=sharing e umhas conclusons comuns https://drive.google.com/file/d/0Byf3O--bD5TwSjFxMVh0bGJBX28/view?usp=sharing) e o IV Encontro Feministas Autónomas da Galiza, que tivo lugar em 20 de fevereiro do 2016 em Vigo, cujo lema foi "Contra as violências machistas, iniciativas feministas" www.facebook.com/groups/1551321591773653/ 
http://feministasautonomasgaliza.blogspot.com.es/2015_12_01_archive.html

Um grupo de companheiras de Ourense decidiu continuar este caminho de análise e açom. Numerosas as questons a debater: colocamos aqui algumhas reflexons que podemos contar entre os objetivos deste IIºEncontro
1) a vontade de elaborar protocolos de resposta, acordos "sobre mínimos" e articulaçom ampla de recursos: estes som os primeiros passos para desenhar uma campanha potente centrada no combate às violências machistas. Todo isso implica um consenso sobre a definiçom de violência machista, a legitimaçom de diferentes vias de resposta, etc. 
2) a necessidade de tecer redes e de refletir sobre o perigo do uso das novas tecnologias como método de organizaçom e visibilizaçom das agressons: esse uso pode ser causa de "dobre" agressom e sobre-exposiçom nas redes; 
3) o cuidado grupal/coletivo diante de casos de violência; 
4) a legitimidade da violência como resposta a agressons e o questionamento desta no género socializado como mulher;
5) a necessidade de tratar o sentimento de culpabilidade ou mal-estar diante dumha resposta violenta à agressom, por nom ser esta construída para este objetivo. 


SEXTA-FEIRA (VENRES) 14
Como previsto no programa, na tarde-noite de sexta-feira começárom a chegar as participantes: houvo um Círculo de Acolhimento com trocas de apresentaçons pessoais, assim como apresentaçom dos diferentes espaços da casa e do programa do Encontro.







SÁBADO 15 - manhã   

O sábado foi um dia muito intenso que começou com atividade de aquecimento, respiraçom e introduçom das atividades posteriores. 

Um dos exercícios, em grupo, foi o de manipular umha folha de papel até criar umha expressom artística que refletisse as sensaçons de cada umha e as suas expetativas das jornadas. Cada criaçom tinha um título e cada artista podia adotar um nome artístico. A seguir, compartilhou-se sensaçons e expetativas. Mais detalhes sobre esta atividade na secçom "Atividades" deste blógue.


Outro exercício de grupo foi a criaçom de "formas invisíveis" que cada umha lançava à outra, como se dum balom se tratasse: mimava-se cada forma com as maos e o corpo e  trocava-se as formas entre todas como se fossem objetos reais. 


A seguir, começou a primeira atividade:


"Emocións: que papel xogan en todo iso?"

Começamos a caminhar em círculo, com diferentes ritmos: primeiro ficando no "espaço" de cada umha, depois trocando olhares entre nós, caminhando em parelha e assim de diferentes maneiras. Diferentes maneiras de caminhar, diferentes maneiras de sentir, de viver o espaço e o nosso lugar nele. Logo, a seguir, cada umha de nós recebe um balom de cor que tem que encher. O balom representa a "cousa mais importante" de nós, que temos que cuidar e proteger. Continuamos a caminhar em círculo. De repente, os balons começam a explodir: alguém do grupo explode os balons das companheiras, sem elas em princípio se darem conta ou poderem reagir. A tensom cresce: algumhas começam a correr, outras buscam meios para proteger-se...É umha luita entre agressoras e agredidas, até o fim da atividade. Depois de terminar, compartilhamos as nossas sensaçons, falamos de como reagimos, o que pensámos, o que decidimos fazer no momento. 




Durante a açom, todas as pessoas cujos balons fòrom furados deixárom o espaço e ficá
rom apartadas, sem receber indicaçons: como vivérom esta agresson?  Que sentírom ao perderem "a cousa mais valiosa" delas mesmas? Porque se apartárom sem que ninguém lhe pedisse? Porque nom defendérom as companheiras para evitar que mais agressons tivessem lugar? Porque nom agrediros elas mesmas as agressoras? Fragilidade, insegurança, medo que paralisa, dificuldade  de reaçom, culpa: muitos os sentimentos que surgírom.



Quanto às outras, às que conseguírom que os balons ficassem a salvo, como figérom? Que estratégia usárom? Defendérom as companheiras ou pensárom em proteger-se?

Houvo duas companheiras que ficárom sozinhas num canto, para proteger-se mutuamente, outras que tentárom defender as companheiras, ainda que isso implicasse pôr o seu balom "em perigo", outra que nom sabia se entrar ou nom a defender as companheiras, para nom estorvar a sua liberdade de açom e decisom... Muitas fôrom as opinions, sensaçons e ideias compartilhadas durante o espaço de reflexom posterior.

Falárom também "as agressoras", as pessoas encarregadas de furar os balons: como se sentírom? Que critérios adotárom para escolher as vítimas? Falou-se do sentimento de domínio que esta atividade provoca, assim como a profunda insegurança e fragilidade percebidas nas agredidas. Umha "agressora" procurou "cúmplices" entre as mesmas agredidas: em vez de agredir direitamente umha "presa" particularmente difícil, ofereceu-lhe a arma, umha agulha, para partilhar o domínio, como acontece em tantas alianças patriarcais. 

Umha atividade muito potente que nom deixou indiferente a ninguém e deu lugar a debates e troca de impressons.
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SÁBADO 15 - tarde
Café Conversa: "Como artellar unha rede de resposta e denúncia socio-política antes as violencias patriarcais (en todas as suas variantes) a nivel galego?" "Que respostas damos?"

Este Café-conversa foi organizado através da análise em grupos de três casos de violência acontecidos na Galiza. 

1º CASO
"A. è un mozo que decide contarlle a B. o que está a acontecer coa sua profesora de Estatística. Dende que o viu bicándose con outro rapaz, á saída do instituto, é frecuente que na aula faga comentarios despectivos como: "Xa sabemos que a homosexualidade non é natural" ou chistes ridículos nos que se refire a el con sorna, aludindo a que é un "desviado". Un día colleuno a soas no corredor do instituto e díxolle con ton intimidatorio que non o queria volver a ver con outro rapaz ou tomaria medidas"




 O grupo identificou a violência direta, pública e simbólica exercida contra o rapaz, assim como o abuso de poder da professora, que, como figura de referência em âmbito educativo, pode também influir sobre "os iguais", o grupo de amizade do rapaz. É, portanto, de muita importância que a pessoa agredida possa receber um apoio adequado por parte das pessoas que a rodeiam, tanto na familiar como na sociedade em geral. Umha clara rejeiçom da violência equivale à procura de soluçons, enquanto o silêncio dos "iguais" é cumplicidade e leva à perpetuaçom da violência.  

Quanto ao acompanhamento, é importante que seja a pessoa agredida que decida o que quer fazer e há que apoiá-la em qualquer decisom. Ao mesmo tempo, é preciso informar-se sobre os passos, procedimentos, tempos e possibilidades para poder-lhe apresentar também alternativas de resposta, garantindo segurança e proteçom. Por isso, devemos conhecer mais os procedimentos legais e institucionais e termos umha advogada de referência para dar informaçons. De facto, mesmo no momento de apresentar a denúncia, a pessoa tem que saber muito bem o que dizer, como agir, que estratégia ter, etc. 

Outra questom muito delicada é a proteçom da identidade da pessoa agredida. A violência machista prescreve que a vítima deve revelar a sua identidade. Isso fai que com frequência o 
preço a pagar por demandar justiça seja o desprezo e a desconfiança pública. Desvelar a identidade é agente desmotivador para denunciar. Tudo isso implica a necessidade de termos bem claras as consequências dumha denúncia, quanto à resposta institucional e burocrática, e para afastarmos o foco da atençom da pessoa agredida. (Ainda assim, é útil considerar estratégias em caso de que a identidade da pessoa finalmente se revelasse.)

Quanto às respostas sociais à agressom, é indispensável reunir-se com a comunidade educativa (equipa de direçom escolar, AMPA, Conselho escolar, etc.) para procurar alianças, exigir apoio através dos eventuais protocolos educativos em vigor, organizar conversas, palestras e formaçom sobre violência tanto para alumnxs como para professorxs. 

Como coletivo feminista, temos que desligar a atençom do caso específico para enlaçá-lo com o objetivo do nosso movimento: eliminar a impunidade de quem agrede e evitar que isso volte a acontecer. 








2º CASO 

"T. é unha muller transexual que dende hai 20 anos mora veu a Galicia dende Colombia. Este verán foi a un festival organizado por un colectivo de esquerdas.
Conta que na noite do sábado á entrada do recinto a seguridade privada ao vela comezou a asubiar e a falar entre eles polo baixo e rindo. Ela escoitou que se dicían en ton despectivo “esta canto cobrará?”. T. respondeulles moi digna e ficaron calados.
Pasadas unhas horas atópaos de novo na casa de banhos. Conta que se achegaron a ela e que agarrándoa con forza polo brazo lle dixeron que os tiña que acompañar fóra. Recorda que había algnhas persoas mirando. Xa fóra metérona nunha furgoneta da organización e levárona ata un lugar exterior ao recinto, escuro e sen xente. Lembra que a empurraron e a tiraron ao chan onde a deixaron despois de dicirlle que “con esas pintas non lle ían pagar nin 5 eu por ter relacións con ela”.

Durante o debate posterior à apresentaçom do caso ficárom evidentes várias questons. 

Num nível mais pessoal, na relaçom com a pessoa agredida:
- A urgência de refletir sobre os conflitos, as carências e os limites do mesmo coletivo, onde nom havia nengumha pessoa trans nem estrangeira, o qual implicava a tomada de consciência das dificuldades para umha compreensom e empatia profunda da violência sofrida;
- a necessidade dumha escuita ativa da pessoa.

Num nível mais coletivo:

- A necessidade de politizar a agressom para a desligar do caso específico, analisando as relaçons de poder dentro do mesmo coletivo, organizando um trabalho conjunto de auto-formaçom sobre género, discriminaçom e direitos GODI. 
-  a procura de apoio mutuo e externo para buscar soluçons.

Na relaçons com outros coletivos:
- trocar experiências sobre quanto acontecido para procurar apoio entre coletivos.

Além disso, manifestárom-se os sentimentos de impotência e frustaçom que surgem quando nom temos respostas coletivas que oferecer, porque todas as tentativas de denúncia e de procura de apoio nom tenhem resultado. A ausência de espaços para defender determinados casos pode provocar falta de resposta e silêncio coletivo: o que fazer? Como gerir a frustraçom? Como suportar um custo emocional tam degastador? 


Talvez a resposta seja tecer alianças feminista por cima dos movimentos sociais de pertença, tecendo redes para difundir um discurso feminista real e indispensável, ainda que possa criar conflitos dentro do mesmo movimento. 






3ª CASO 

"A. é un rapaz con moita traxectoria activista e moi recoñecido entre a xente do movemento libertario.
Q. é unha moza coñecida por algunha das persoas do centro social okupado no que participa A.

A moza cóntalle a unha amiga (compañeira do c.s.) que despois de liarse varias veces co A. decidiu deixar de facelo. Conta que el comezou a presionala polo facebook para que se volvesen ver e mesmo un día apareceu na súa casa despois de que ela lle dixese que non quería velo.


Ademais conta que o outro día na festa do centro social estaba el e ao vela con outro rapaz mirouna con mala cara, e de cando en vez achegábase ao seu ouvido insultándoa en voz baixa, ademais de permanecer todo o tempo observándoa con desprecio. Gustaríalle facer algo para que se soubese e para que non se volvese repetir. Ten medo de que continúe así e por iso estalle deixando de apetecer ir ás actividades que se organicen dende o centro social."


O debate que surgiu sobre este caso evidenciou, num nível individual, a necessidade de proteger a pessoa agredida, garantindo o anonimato, afastando o foco da atençom da sua identidade. Num nível mais coletivo, a obrigaçom de coletivizar a luita contra toda violência machista. 


Entre os objetivos identificados:

- a cessaçom imediata do assalto, portanto o apoio à pessoa agredida na decisom de denunciar ou nom as agressons;
- a visibilizaçom e prevençom da violência, através da assembleia do centro social e outros mecanismos grupais para amplificar a difusom da mensagem;
- a reparaçom e o empoderamento, graças ao apoio psicológico e emocional dado à pessoa agredida e xs companheirxs, assim como formaçom em autodefesa feminista.
- a criaçom ou o reforço da uniom feminista através de convocatórias feminista para um trabalho interno e externo contra todas as formas de violência.

Quantos aos passos a dar e as esferas onde incidir:
- a necessidade dum intenso trabalho de cuidado. Isso implica um "adestramento" (Como fazê-lo?), mas também umha organizaçom dos tempos (Quanto tempo vai durar? Com que frequência?) e das energias (Quem vai encarregar-se? Como evitar o desgaste emocional das pessoas encarregadas? Como garantir a continuidade no apoio sem sobrecarregar as mesmas pessoas?)
- a importância de levar o debate à rua, de politicizar a violência com demandas concretas e umha pedagogia anti-assalto.   




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Veu, a seguir, a apresentaçom do 2º Manifesto contra a agressom machista de maio de 2015 em Compostela. Esta agressom provocou um primeiro manifesto de recusa da violência e de petiçom dum posicionamento firme e coerente dos movimentos sociais galegos, mas foi também causa dumha denúncia, ainda pendente, contra agumhas assinantes. Isso criaçom a consciência da necessidade urgente dum espaço de reflexom, debate e acçom feminista contra as violências machistas. 
Este 2º Manifesto pode-se encontrar no blogue: “Fartas de agressons machistas" https://contraasagressonsmachistas.wordpress.com/

O debate que se seguiu à leitura deste comunicado incluiu o esclarecimento de detalhes legais, assim como o pedido de mais informaçons. Também se falou da importância da açom do grupo, da participaçom nas assembleias e do apoio mútuo. Deste modo podemos sentir mais força, ter mais coragem e nom deixar que a violência e as ameaças nos paralisem. A insubordinaçom será sempre culpada, mas temos que procurar apoio e estratégias para que nom nos esmaguem. Este Comunicado nom é só a favor das mulheres denunciadas, mas também contra a violência nos movimentos sociais e sobretudo contra a criminalizaçom do movimento feminista.   
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A noite do sábado foi dedicada à celebraçom, à festa e à homenagem de todas nós!


Houvo timba poética com os poemas da Tamila, a actuaçom musical da Catarina Fernández e ...baile com a música da DJ Tati!
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DOMINGO 16 - manhã  

Passámos à Avaliaçom final deste Encontro.
As primeiras a começar a avaliaçom fôrom as companheiras que se encarregárom de arranjar o nosso Encontro: Andrea, Bea, Berta, Natália, Tamila, Uxia, Xiana.

A preparaçom exigiu um prolongado trabalho que, por momentos, causou cansaço e stress, mas o resultado foi satisfatório e pagou a pena. O limitado tempo do Encontro nom permitiu aprofundar mais no trabalho de grupo, mas todas temos consciência de que se avançou no objetivo de redigir protocolos de atuaçom contra a violência machista.

Outro elemento positivo foi a presença de companheiras de fora da Galiza que nos derom ocasiom de umha troca mais ampla de ideias e impressons.

Entre as questons a melhorar ou mudar, surgiu a proposta doutro modelo de gestom mais "descentralizado": coletivizar a distribuiçom das tarefas, responsabilizar as participantes polo trabalho e partilhar no miúdo as incumbências. Desta maneira, evitaria-se sobrecarregar poucas pessoas com as tarefas da organizaçom para assegurar a sustentabilidade de encontros deste tipo.

Quanto às refeiçons,  houvo talvez um excesso de comida, o qual gerou, por momentos, umha sobrecarga de trabalho nas pessoas responsáveis da cozinha e umha despesa económica excessiva. Alguem propujo mudar a organizaçom das refeiçons, quer responsabilizando cada pessoa de trazer comida, quer propondo menus mais frugais.












Nos dias 14, 15 e 16 de outubro de 2016 tivo lugar na Serra de Sam Mamede, em Ourense, o IIº Encontro de Autoformaçom Feminista sobre V...